Siga-nos nas redes sociais:

 
Entrevista de Dom Petrini sobre o Sínodo das Famílias

- Um questionário como esse enviado para ouvir a opinião das bases parece demonstrar uma outra maneira de governar a Igreja. Qual a importância dessa iniciativa do Papa Francisco? O Papa Francisco não quer que o Sínodo se limite a repetir o que a doutrina da Igreja (catecismo e Magistério) diz sobre o matrimônio e a família. Ele quer ouvir os fieis, os casais, para compreender “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje”, como diz o Concílio Vaticano II (GS 1). É uma atitude admirável, porque busca dialogar com as pessoas de maneira que o que a Igreja dirá não poderá ser um “discurso” teórico, abstrato, distante das alegrias e das tristezas que quotidianamente o povo cristão enfrenta. - Como cada católico batizado deve se preparar para responder esse questionário? A primeira maneira de preparar-se ao Sínodo é rezar intensamente, invocar o Espírito Santo, pois é ele que governa a Igreja, pra que ilumine os corações dos cristãos e nos comunique sua  sabedoria divina. A segunda maneira de preparar-se é  dar atenção  aos desejos mais profundos do coração, para que a Palavra de Deus encontre o ser humano, homem e mulher, no seu nível pais profundo e mais autêntico. Nas profundezas do nosso coração encontram-se as exigências de felicidade, de realização, de paz que o próprio Deus colocou nele.. Estas exigências nos deixam inquietos e nos põem em movimento,  em busca de um bem maior, do Bem infinito que é Ele mesmo.  Santo Agostinho dizia nas Confissões: “"Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti." Esta inquietação deve ser reencontrada no meio de tanto entorpecimento para podermos encontrar a verdadeira paz, o verdadeiro repouso na amizade com Jesus Cristo. - Como tem sido a adesão das famílias a este questionário? As famílias da Pastoral familiar com as quais tive contacto ficaram interessadas em participar, felizes por terem sido chamados a tomar parte direta num evento grande da igreja. - O professor Alfredo Culleton, da Unisinos, teceu uma crítica às perguntas por terem expressões em latim, conceitos complexos, referências a documentos do magistério da Igreja, entre outras coisas que estão distantes do conhecimento dos fiéis em geral. Segundo ele, as perguntas parecem ter sido feitas por teólogos para teólogos. Que avaliação o senhor faz do nível das perguntas? Nossa linguagem muitas vezes se distancia do quotidiano das pessoas às quais nos dirigimos. Problemas de linguagem podem existir, mas não prejudicam significativamente nem a intenção originária de dialogar com os leigos e nem a possibilidade de responder às questões. - O sínodo vai abordar os problemas gerados pela multiplicidade de conceitos de família presentes hoje nas sociedades. Na sua opinião, quais os maiores desafios da Igreja em relação a essa questão? O maior desafio é despertar a esperança de que o amor humano, quando vivido segundo o desígnio de Deus como dom sincero e total de si para o bem e para a felicidade de outra pessoa, é o melhor caminho para a realização humana, para a felicidade que dura. Isto nasce de uma maneira pobre de entender o que é amor, identificado com emoções afetivas que, por sua natureza, são passageiras, voláteis e, portanto, incapazes de sustentar a grandeza da vida conjugal e os desafios da paternidade e da maternidade. - Essa confusão criada em torno do conceito a respeito do que é ser família tem atrapalhado a primeira transmissão da fé? Quando se empobrece a maneira de viver o amor, quando a disponibilidade a abraçar algum sacrifício para o bem do outro é substituída com a preferência a sacrificar outros para o próprio bem estar, não há clima para vivenciar a fé e para transmiti-la às novas gerações.   - Uma configuração familiar muito presente na nossa sociedade é a de famílias em que as crianças são criadas pelos avós. Como a Igreja encara essa questão? A vida em sociedade e, de maneira especial, o mundo do trabalho, não estão organizados para favorecer a família, para valorizar a paternidade e a maternidade. São exigidos ritmos de trabalho e se gastam horas para locomover-se nas grandes cidade de tal forma que não sobra tempo para os pais terem tempo para se dedicar aos filhos.  Por sorte, há muitos avós que acolhem e se dedicam às crianças. Mas muitas vezes os educadores são a TV, a internet, os videogames e babás, nem sempre preparadas para a tarefa. - Há também uma tendência de pessoas casadas morarem em casas separadas, mesmo tendo filhos. Como a Igreja lida com essa questão e de que modo essa prática pode influenciar na formação dos filhos e na configuração da família como um todo? Uma criança necessita de receber vacina para crescer sem problemas, necessita de alimentação e de escolas. Elas têm uma necessidade muita maior de crescer tendo um pai e uma mãe perto, para terem modelos de maturidade humana com os quais possam identificar-se e crescer. Muitos problemas que a nossa sociedade enfrenta provavelmente não existiriam se  às crianças fosse garantido o direito do qual fala o Estatuto da Criança e do Adolescente de crescer no seio de uma família. - O senhor acredita que o sinodo deve trazer mudanças concretas a respeito da participação de casais de segunda união nas paróquias, especialmente em relação aos sacramentos da reconciliação e da comunhão? Certamente o Sínodo vai reafirmar que o coração de Deus, o coração de Jesus e sua prática estão repletos de Misericórdia, isto é, da atitude que se dobra sobre o que é miserável para acolher, abraçar, curar as feridas, como nos recorda sempre o Papa Francisco. A Misericórdia procurará todos os caminhos possíveis para aliviar o sofrimento de muitas pessoas, sem contradizer, contudo, nem a verdade e nem a justiça. Vamos aguardar para ver o que o Espírito sugere à Igreja. - Quanto às uniões homoafetivas, certamente a Igreja não vai mudar nada no âmbito da doutrina. Do ponto de vista pastoral, o que pode mudar? Como lidar com pessoas que foram batizadas, educadas na fé católica, mas têm a inclinação homossexual e não conseguem passar a vida toda vivendo o conselho do Catecismo de viver a castidade? Acredito que nenhuma pessoa, mesmo movida pelo maior desejo de ser santa, consegue viver sem pecado. O Papa Francisco disse isto logo no início de seu pontificado, chegando a declarar-se pecador. Aliás, São Paulo fez algo semelhante, dizendo-se o maior pecador de todos. Nesses casos, a misericórdia é sempre vitoriosa, pouco importando se é necessário recorrer a ela mil vezes por dia. E no abraço da Misericórdia, a vida começa a mudar, a Presença de Jesus Cristo atua, o bem começa a crescer no coração e na vida das pessoas. O problema verdadeiro é conduzir a própria vida para ser uma sequência de pecados sistematicamente planejados. Pior ainda é chamar de bem o que objetivamente não corresponde ao bem, para dispensar “a coisa mais bonita, a glória da vida”, sua infinita misericórdia que nos quer abraçar. . - Há também os casos de homossexuais que, tendo tido um encontro pessoal com Cristo, decidem-se por viver uma espécie de celibato. Que tipo de apoio essas pessoas recebem da Igreja, para que não voltem atrás na sua escolha? As pessoas chamadas ao celibato preferem Jesus como único parceiro de um relacionamento que corresponde plenamente ao seu desejo de amor e de paz. E dão o maior testemunho possível: existe quem responde ao meu desejo infinito de amar e de ser amado. Existe e eu o encontrei, é Jesus Cristo, aquele que venceu a morte. Corresponder ao amor dele é o bem maior que merece qualquer sacrifício. É semelhante ao mártir. De fato, mártir é uma palavra grega que significa testemunha.  Mártir é a pessoa que prefere morrer permanecendo unida a Jesus, do que viver obrigada a renunciar a ele, dando assim o testemunho de que o amor que nos liga a Ele vale mais do que a vida. A pessoa celibatária dá um testemunho de que amor de Jesus vale mais do que os amores vividos segundo carnais. Essas formas de testemunhos são radicais e exigem coragem e uma fé convicta, exige também renuncias. Dos esportistas e das modelos também são exigidos sacrifícios que podem ser acolhidos com amor quando servem a um grande ideal. - Hoje em dia, em muitas dioceses e paróquias, os chamados cursos de noivos se resumem a um dia ou uma manhã em que os aspirantes ao casamento ouvem algumas palestras sobre contracepção, sacramento do matrimônio, entre outros temas. Dada a importância do casamento, visto que é uma vocação tanto quanto a Ordem, o senhor acha que os casais são bem formados pela Igreja para se casar? Tão austera com a formação de padres e religiosos, a Igreja tem negligenciado a preparação para o casamento? A Igreja está recomendando uma preparação remota para o casamento, que comece com a catequese em preparação ao sacramento da Eucaristia e, mais ainda, ao sacramento do Crisma. E já existe a prática de uma preparação próxima, um ou dois anos antes da celebração do matrimônio, pensada como um caminho dos noivos para que possam aprender a viver o amor humano como a aventura mais fascinante quando vivida em Cristo, experimentando que seu amor humano, necessariamente frágil, é potencializado pela presença de Jesus Cristo, graças ao sacramento do matrimônio. No entanto, essas experiências são quantitativamente limitadas e é difícil, no contexto da cultura atual, dar-lhes uma difusão muito mais ampla.  

Entrevista publicada no Jornal do Santuário de Aparecida

 
Indique a um amigo
 
 
Notícias relacionadas

Fale com a cúria

Newsletter
CADASTRE SEU E-MAIL e receba notícias atualizadas da Diocese de Camaçari

Copyright © Diocese de Camaçari. Todos os direitos reservados