Em entrevista concedida a Rede Vida, Dom Petrini destaca os principais aspectos do Sínodo. Confira :
Dom João Carlos Petrini integra o grupo de religiosos brasileiros que participará do Sínodo dos Bispos em Roma, entre os dias 4 e 25 de outubro. “O fato do papa Francisco ter convocado dois Sínodos que tem como tema a Família é algo inédito, mas que já deixa clara a importância deste tema para a vida da Igreja e da sociedade”, observa o bispo de Camaçari (BA), que preside o regional Nordeste 3 da CNBB.
Dom Petrini avalia que durante o Sínodo haverá debate a respeito de todos os temas que envolvem a família. “A necessidade que a Igreja tem de mostrar o rosto da Misericórdia de maneira mais acentuada e a necessidade de respeitar a grande tradição e a doutrina poderão provocar debates mais acesos, a respeito do acolhimento às pessoas com tendências homossexuais e aos recasados civilmente depois de um divórcio”, destaca o bispo.
Dom Petrini observa que o importante será distinguir temas centrais e temas secundários, para distribuir melhor as atenções e o tempo para o diálogo.
Veja abaixo, na íntegra, a entrevista concedida por dom João Carlos Petrini ao site da REDEVIDA.
1- Qual a importância dessa assembleia que tem a família como tema principal?
Dom Petrini: O Papa Francisco tem uma visão muito clara dos desafios que a igreja enfrenta, quer internamente (vejam, por exemplo, os esforços para renovar a cúria romana), quer no diálogo com o mundo. O fato dele ter convocado dois Sínodos que tem como tema a Família é algo inédito, mas que já deixa clara a importância deste tema para a vida da Igreja e da sociedade. De fato, a família é um ponto nevrálgico para a construção que a sociedade viva na paz, para que possamos ter um desenvolvimento sustentável respeitoso da ecologia humana. E, ao mesmo tempo, a família é decisiva para o futuro da Igreja, para a difusão da beleza e da grandeza da paternidade e da maternidade e para transmissão da fé às novas gerações. Na medida em que a Igreja resgata a sua realidade de “Igreja Doméstica”, ela será evangelizadora, com numa eficácia única, porque poderá alcançar na sua missão pessoas que os agentes de pastoral normalmente não alcançam.
2- Na avaliação do senhor, quais devem ser os pontos polêmicos abordados durante o Sínodo?
Dom Petrini: Antes de falar dos pontos polêmicos que provavelmente serão debatidos no Sínodo, quero indicar quais os pontos mais relevantes: O Sínodo está manifestando um êxito extraordinário, antes mesmo de começar. Eu nunca vi tantas pessoas interessadas em compreender a família e os desafios que enfrenta como nestes meses que antecedem o Sínodo, com a organização de seminários, congressos, simpósios, etc. Nunca vi tantos livros publicados a respeito da família e tantos sites na internet e blogs que tratam do assunto. Este diálogo internacional intenso é o primeiro grande resultado positivo do Sínodo.
Ele constitui uma grande oportunidade para que a Igreja apresente o “Evangelho da Família”, isto é, a beleza do amor humano vivido numa família cristã, como fonte inesgotável de satisfação, de realização humana, de felicidade. Interessa explicitar quais são as razões pelas quais, o que de melhor um jovem, uma jovem podem fazer, além de preparar-se profissionalmente, é construir sua relação de amor de acordo com o Desígnio de Deus, isto é, um amor compreendido como dom sincero e total de si para o bem e a felicidade do outro. Um amor que proporciona uma experiência de comunhão, de partilha e participação, de recíproca responsabilidade, à imitação da Santíssima Trindade. A beleza desta unidade-comunhão será para sempre, como o coração de todo homem e de toda mulher sempre deseja quando experimenta o amor. Dessa maneira, o casal dá vida a um vínculo que é indissolúvel e exclusivo. E isto não é percebido como uma amarra que aprisiona, mas como o maior bem, o maior recurso para enfrentar a vida inteira. Esta unidade feita de reciprocidade de afetos e de dom está aberta para gerar novas vidas, na experiência exaltante da paternidade e da maternidade responsáveis, numa infinita distância dos individualistas radicais que têm medo de assumir o compromisso de serem pais e mães, querendo preservar uma liberdade que parece perder o melhor da vida.
Uma unidade assim qualifica-se pela cooperação entre sexos e entre gerações, isto é, abraça as tarefas de educar seus filhos e de cuidar dos pais idosos.
Esta família, ao construir suas relações, gera ao seu redor um ambiente de solidariedade e de participação, está atenta à ecologia humana e social, constrói a paz.
Haverá debate a respeito de todos os temas, porque participam do Sínodo bispos do mundo inteiro, com situações, problemática e culturas diferentes, mas sempre a unidade da Igreja será a marca. Contamos com a assistência do Espírito Santo para conduzir nossos trabalhos. A necessidade que a Igreja tem de mostrar o rosto da Misericórdia de maneira mais acentuada e a necessidade de respeitar a grande tradição e a doutrina poderão provocar debates mais acesos, a respeito do acolhimento às pessoas com tendências homossexuais e aos recasados civilmente depois de um divórcio.
Certamente este Sínodo terá as marcas do acolhimento e da misericórdia que serão valorizados, sem contudo quebrar pontos essenciais da doutrina.
3- O Sínodo deverá resultar em documentos que tratem de temas como o aborto, casais de segunda união e união homo afetiva?
Dom Petrini: Em princípio, nenhum tema que tenha alguma relação com a família será enfrentado pelo Sínodo. O importante será distinguir temas centrais e temas secundários, para distribuir melhor as atenções e o tempo para o diálogo. O Instrumentum laboris já traz essas temáticas. Existem situações às quais poderá ser dada uma solução, uma resposta clara e satisfatória. Outras poderão permanecer em aberto, como questões complexas e ainda não suficientemente claras em suas implicações que exigem uma reflexão maior.
4 - Qual a relação se pode fazer entre o Sínodo dos Bispos e o Ano da Misericórdia, que se inicia em dezembro?
Dom Petrini: O ano da Misericórdia deverá deixar marcas em toda a vida da Igreja, é um convite do Papa Francisco a enfatizar mais este valor do qual Jesus fala com tanta força nos Evangelhos. As pastorais, a ação evangelizadora, as relações da Igreja com a sociedade moderna serão marcadas pela misericórdia. O Sínodo dos Bispos é um dos primeiros ambientes onde decisões serão tomadas à luz da Misericórdia.
5- Qual modelo de família a comunidade precisa?
Dom Petrini: Mais importante que um modelo, é importante identificar um núcleo essencial que deverá estar presente, em medida maior ou menor, em qualquer modelo de família, como o genoma que preside ao desenvolvimento de cada pessoa.
- A cooperação entre os sexos e entre as gerações numa reciprocidade de afetos e de responsabilidade (não a disputa ou o abandono) constitui um ponto fundamental pra qualquer modelo.
- O amor vivido como dom sincero de si para o bem do outro, como já fala a Gaudium et Spes, é a segunda marca, que qualifica a família e a diferencia das formas de amor egoísta que quer tudo para si, tratando a outra pessoa como meio para a própria satisfação.
- A abertura para gerar filhos e educá-los qualifica de modo essencial a família, tanto é verdade que a Igreja Católica considera nulo um casamento no qual os cônjuges se negassem, desde o início, a ter filhos.
- A intimidade sexual proporciona não somente a unidade íntima e total entre os cônjuges, mas dá vida a todas as outras marcas para que exista uma família em sentido pleno. Por isso, é necessária a presença de um homem e de uma mulher. Outras formas de união podem existir com certa aproximação, como semelhança, terão razões para legitimar sua existência, ainda que com limitações objetivas.
Fonte : Rede Vida
Publicado : 02/10/2015
Em entrevista concedida a Rede Vida, Dom Petrini destaca os principais aspectos do Sínodo. Confira :
Dom João Carlos Petrini integra o grupo de religiosos brasileiros que participará do Sínodo dos Bispos em Roma, entre os dias 4 e 25 de outubro. “O fato do papa Francisco ter convocado dois Sínodos que tem como tema a Família é algo inédito, mas que já deixa clara a importância deste tema para a vida da Igreja e da sociedade”, observa o bispo de Camaçari (BA), que preside o regional Nordeste 3 da CNBB.
Dom Petrini avalia que durante o Sínodo haverá debate a respeito de todos os temas que envolvem a família. “A necessidade que a Igreja tem de mostrar o rosto da Misericórdia de maneira mais acentuada e a necessidade de respeitar a grande tradição e a doutrina poderão provocar debates mais acesos, a respeito do acolhimento às pessoas com tendências homossexuais e aos recasados civilmente depois de um divórcio”, destaca o bispo.
Dom Petrini observa que o importante será distinguir temas centrais e temas secundários, para distribuir melhor as atenções e o tempo para o diálogo.
Veja abaixo, na íntegra, a entrevista concedida por dom João Carlos Petrini ao site da REDEVIDA.
1- Qual a importância dessa assembleia que tem a família como tema principal?
Dom Petrini: O Papa Francisco tem uma visão muito clara dos desafios que a igreja enfrenta, quer internamente (vejam, por exemplo, os esforços para renovar a cúria romana), quer no diálogo com o mundo. O fato dele ter convocado dois Sínodos que tem como tema a Família é algo inédito, mas que já deixa clara a importância deste tema para a vida da Igreja e da sociedade. De fato, a família é um ponto nevrálgico para a construção que a sociedade viva na paz, para que possamos ter um desenvolvimento sustentável respeitoso da ecologia humana. E, ao mesmo tempo, a família é decisiva para o futuro da Igreja, para a difusão da beleza e da grandeza da paternidade e da maternidade e para transmissão da fé às novas gerações. Na medida em que a Igreja resgata a sua realidade de “Igreja Doméstica”, ela será evangelizadora, com numa eficácia única, porque poderá alcançar na sua missão pessoas que os agentes de pastoral normalmente não alcançam.
2- Na avaliação do senhor, quais devem ser os pontos polêmicos abordados durante o Sínodo?
Dom Petrini: Antes de falar dos pontos polêmicos que provavelmente serão debatidos no Sínodo, quero indicar quais os pontos mais relevantes: O Sínodo está manifestando um êxito extraordinário, antes mesmo de começar. Eu nunca vi tantas pessoas interessadas em compreender a família e os desafios que enfrenta como nestes meses que antecedem o Sínodo, com a organização de seminários, congressos, simpósios, etc. Nunca vi tantos livros publicados a respeito da família e tantos sites na internet e blogs que tratam do assunto. Este diálogo internacional intenso é o primeiro grande resultado positivo do Sínodo.
Ele constitui uma grande oportunidade para que a Igreja apresente o “Evangelho da Família”, isto é, a beleza do amor humano vivido numa família cristã, como fonte inesgotável de satisfação, de realização humana, de felicidade. Interessa explicitar quais são as razões pelas quais, o que de melhor um jovem, uma jovem podem fazer, além de preparar-se profissionalmente, é construir sua relação de amor de acordo com o Desígnio de Deus, isto é, um amor compreendido como dom sincero e total de si para o bem e a felicidade do outro. Um amor que proporciona uma experiência de comunhão, de partilha e participação, de recíproca responsabilidade, à imitação da Santíssima Trindade. A beleza desta unidade-comunhão será para sempre, como o coração de todo homem e de toda mulher sempre deseja quando experimenta o amor. Dessa maneira, o casal dá vida a um vínculo que é indissolúvel e exclusivo. E isto não é percebido como uma amarra que aprisiona, mas como o maior bem, o maior recurso para enfrentar a vida inteira. Esta unidade feita de reciprocidade de afetos e de dom está aberta para gerar novas vidas, na experiência exaltante da paternidade e da maternidade responsáveis, numa infinita distância dos individualistas radicais que têm medo de assumir o compromisso de serem pais e mães, querendo preservar uma liberdade que parece perder o melhor da vida.
Uma unidade assim qualifica-se pela cooperação entre sexos e entre gerações, isto é, abraça as tarefas de educar seus filhos e de cuidar dos pais idosos.
Esta família, ao construir suas relações, gera ao seu redor um ambiente de solidariedade e de participação, está atenta à ecologia humana e social, constrói a paz.
Haverá debate a respeito de todos os temas, porque participam do Sínodo bispos do mundo inteiro, com situações, problemática e culturas diferentes, mas sempre a unidade da Igreja será a marca. Contamos com a assistência do Espírito Santo para conduzir nossos trabalhos. A necessidade que a Igreja tem de mostrar o rosto da Misericórdia de maneira mais acentuada e a necessidade de respeitar a grande tradição e a doutrina poderão provocar debates mais acesos, a respeito do acolhimento às pessoas com tendências homossexuais e aos recasados civilmente depois de um divórcio.
Certamente este Sínodo terá as marcas do acolhimento e da misericórdia que serão valorizados, sem contudo quebrar pontos essenciais da doutrina.
3- O Sínodo deverá resultar em documentos que tratem de temas como o aborto, casais de segunda união e união homo afetiva?
Dom Petrini: Em princípio, nenhum tema que tenha alguma relação com a família será enfrentado pelo Sínodo. O importante será distinguir temas centrais e temas secundários, para distribuir melhor as atenções e o tempo para o diálogo. O Instrumentum laboris já traz essas temáticas. Existem situações às quais poderá ser dada uma solução, uma resposta clara e satisfatória. Outras poderão permanecer em aberto, como questões complexas e ainda não suficientemente claras em suas implicações que exigem uma reflexão maior.
4 - Qual a relação se pode fazer entre o Sínodo dos Bispos e o Ano da Misericórdia, que se inicia em dezembro?
Dom Petrini: O ano da Misericórdia deverá deixar marcas em toda a vida da Igreja, é um convite do Papa Francisco a enfatizar mais este valor do qual Jesus fala com tanta força nos Evangelhos. As pastorais, a ação evangelizadora, as relações da Igreja com a sociedade moderna serão marcadas pela misericórdia. O Sínodo dos Bispos é um dos primeiros ambientes onde decisões serão tomadas à luz da Misericórdia.
5- Qual modelo de família a comunidade precisa?
Dom Petrini: Mais importante que um modelo, é importante identificar um núcleo essencial que deverá estar presente, em medida maior ou menor, em qualquer modelo de família, como o genoma que preside ao desenvolvimento de cada pessoa.
- A cooperação entre os sexos e entre as gerações numa reciprocidade de afetos e de responsabilidade (não a disputa ou o abandono) constitui um ponto fundamental pra qualquer modelo.
- O amor vivido como dom sincero de si para o bem do outro, como já fala a Gaudium et Spes, é a segunda marca, que qualifica a família e a diferencia das formas de amor egoísta que quer tudo para si, tratando a outra pessoa como meio para a própria satisfação.
- A abertura para gerar filhos e educá-los qualifica de modo essencial a família, tanto é verdade que a Igreja Católica considera nulo um casamento no qual os cônjuges se negassem, desde o início, a ter filhos.
- A intimidade sexual proporciona não somente a unidade íntima e total entre os cônjuges, mas dá vida a todas as outras marcas para que exista uma família em sentido pleno. Por isso, é necessária a presença de um homem e de uma mulher. Outras formas de união podem existir com certa aproximação, como semelhança, terão razões para legitimar sua existência, ainda que com limitações objetivas.
Fonte : Rede Vida
Publicado : 02/10/2015